sábado, 10 de abril de 2010

Istambul: o elixir do Oriente

Com a riqueza de seu passado, a antiga Constantinopla permanece como o centro cultural da Turquia




Desde épocas remotas, Istambul se distingue por suas vias navegáveis: de início o estreito de Bósforo, que separa a Ásia da Europa, em seguida o chamado Chifre de Ouro, que corta em dois o Velho Continente. É, portanto, a bordo dos inumeráveis barcos que se cruzam durante todo o dia que se deve descobrir essa cidade. Uma multidão de trabalhadores, sem dar a menor atenção à paisagem, se precipita nos horários de pico para entrar numa embarcação, como se esta fosse um ônibus.

A parte asiática da cidade é mais residencial, e na orla do Chifre de Ouro se concentra a maior parte dos monumentos. Ao norte da zona costeira situa-se o antigo bairro europeu de Pera (atualmente Beyoglu), onde se concentravam as embaixadas ocidentais e os palácios do sultão. A alta colina é dominada pela praça Taksim, que atrai uma multidão. Descendo em direção ao Chifre de Ouro, a grande avenida Istiklâl propõe ao caminhante, em suas lojas, as mais famosas marcas. Um velho bonde, de madeira envernizada e cobre, circula lentamente no meio da via, tocando um sino para afastar os passantes. Nos dois lados da avenida, galerias cobertas abrigam lojinhas de todas as espécies, restaurantes e cinemas.

O final da avenida Istiklâl é dominado por uma curiosidade da cidade: o Tünel, um dos mais antigos metrôs do mundo, construído pelos franceses em 1873. Um único vagão preso a um cabo e uma única estação que permite descer rapidamente de Beyoglu ao bairro portuário de Karakoy. Um minuto de trajeto e se está na orla. O ambiente é animado. Encontram-se ali numerosos restaurantes especializados em peixes.

Uma ponte ampla, verdadeiro elo vital, cruza o rio. Por toda sua extensão, nos dois lados do parapeito, encontram-se pescadores. Na maioria das vezes, equipados com um material sofisticado, pescam com molinete peixinhos conservados vivos em bacias de plástico. Na margem oposta aparece o centro comercial dessa cidade de mais de 15 milhões de habitantes. Estamos ao pé da "Nova Roma" do imperador Constantino, uma cidade conquistada pelos otomanos do grande sultão Mehmed II, em 1453. Antes de mergulhar nas camadas históricas da cidade, vale a pena visitar o coração do "bazar egípcio", o misir carsi, um longo caminho coberto repleto de odores, cores e sabores. Dos lukums de múltiplos perfumes ao caviar do mar Negro, passando pelas especiarias, esse mercado é uma festa para os sentidos. E não importa qual seja a nacionalidade do visitante, os comerciantes se dirigirão a ele em sua própria língua durante todo o passeio.

As mercadorias transbordam dos magazines, e uma visita a Istambul não estaria completa sem uma excursão também aos ourives, vendedores de couros e vestimentas. Um aviso aos amadores: não há etiquetas de preço nas peças. Cada um deve negociar, por alguns minutos ou algumas horas, enquanto bebe o chá de maçã oferecido pelos mercadores sorridentes que se amontoam ao seu redor.

Tudo é possível, tudo está disponível. Basta vasculhar, avançar sem receio pelos meandros que por vezes revelam suntuosas surpresas arquitetônicas, por vezes becos sem saída sombrios e decadentes. Na soleira das lojas, alisando seus bigodes, sentados em uma cadeira à beira da calçada ou mergulhados na leitura de seu jornal, os comerciantes esperam os clientes. Depois, ao cair da noite, as lojinhas fecham uma a uma suas portas. Os transeuntes se apressam e a colméia logo se transforma em cidade-fantasma.

A hora avança, a luz aparece dourada. É tempo de se dirigir em peregrinação ao Eyüp, bairro situado na extremidade oeste do Chifre de Ouro. Descobrem-se ali, de início, a mesquita santa e a alameda dos túmulos. Hoje em dia, o visitante pode ter acesso à sepultura de Eyüp - companheiro do Profeta morto por ocasião do primeiro cerco da cidade pelos árabes. Numerosos crentes, contritos, rezam longamente junto a um túmulo recoberto de porcelana e diante da impressão de uma pegada de Maomé.

Do lado de fora se estende sobre a colina uma imensa necrópole, importante local de culto para os muçulmanos porque ali estão enterrados dignitários do Império Otomano. O topo é dominado pelo café Pierre Loti, cujo acesso é feito após 400 m de subida sob as árvores.

Ao longe se esboça o palácio de Topkapi, ponto final do Velho Serralho e da Europa, esplanada solitária elevada e branca dominando os azuis distantes do mar e da Ásia. A noite cai sobre a velha Istambul. É hora de retornar às ruas cheias de luzes, de gritos e de músicas da cidade envolvente às margens do Bósforo.

.:: História Viva

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